Câncer de fígado e vias biliares

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O termo câncer de fígado geralmente está se referindo ao Hepatocarcinoma ou Carcinoma Hepatocelular (CHC). É um tumor que geralmente se desenvolve no contexto de doença hepática crônica ou cirrose. Esse grupo de pacientes, inclusive, deve ser rastreado para CHC, mesmo que assintomático, com a realização de ultrassom de abdome e dosagem de alfafetoproteína, um marcador tumoral, a cada 6 meses.

Nos pacientes rastreados, o tumor pode ser identificado em estágios mais precoces, quando ainda estão assintomáticos. Quando apresenta sintomas, os mais comuns são dor abdominal, perda de peso, diarreia e massa palpável no abdome. Icterícia pode estar presente nos casos em que há compressão da via biliar.

O diagnóstico envolve a realização de uma tomografia de abdome com contraste no caso de surgimento de uma lesão sugestiva no ultrassom de abdome ou presença de sintomas compatíveis. Principalmente nos pacientes cirróticos, essa lesão deve ser categorizada de acordo com a classificação chamada de LIRADS. Lesões classificadas como LIRADS-5 são diagnósticas de hepatocarcinoma, dispensando a necessidade de biópsia.

Mulher realizando ultrassom de abdome em um homem como investigação de um tumor no fígado
Mulher realizando ultrassom de abdome em um homem como investigação de um tumor no fígado

O ultrassom de abdome serve como exame de rastreio para CHC em cirróticos. Além disso, geralmente é o primeiro exame que é realizado pelo paciente durante a investigação

A biópsia da lesão, quando necessária, é feita de forma percutânea, guiada por um exame de imagem. Está indicada em casos de dúvida diagnóstica ou em casos que o cirurgião julgar que a lesão é irressecável, ou seja, impossibilitada de ser removida cirurgicamente.

Após o diagnóstico, é necessário realizar o estadiamento, etapa em que é possível entender a extensão da doença. Além da tomografia de abdome já realizada, é necessária uma tomografia de tórax, bem como a dosagem do marcador tumoral alfafetoproteína (AFP). Nesse momento, também devem ser solicitadas as sorologias para hepatites virais e as provas de função hepática e renal. Estes últimos exames servem para classificar o nível de cirrose subjacente.

O tratamento do hepatocarcinoma é complexo, variável a depender do caso, e multidisciplinar. Deve envolver o cirurgião, o oncologista clínico e o hepatologista. Na verdade, são duas doenças coexistindo: a neoplasia e a cirrose hepática. Qualquer proposta de tratamento deve levar em consideração as nuances de ambas.

As opções variam entre tratamento sistêmico com quimioterapia, tratamento local, ressecção cirúrgica e transplante hepático. Cada caso deve ser discutido em consultório para a melhor conduta individualizada.

Médico explicando para os pacientes as possibilidades de tratamento para um tumor no fígado
Médico explicando para os pacientes as possibilidades de tratamento para um tumor no fígado

O tratamento do hepatocarcinoma é complexo e multidisciplinar. Existem muitas possibilidades, que será avaliada individualmente em cada caso

Em termos gerais, o paciente deve ser candidato à ressecção cirúrgica nos casos em que a lesão é única, ressecável e a cirrose está controlada (grau A). Deve ser levado em consideração a funcionalidade do paciente, a extensão da cirurgia e o tamanho do fígado residual. O objetivo da cirurgia é remover completamente o tumor, mantendo o restante do fígado apto para suprir as necessidades do organismo. É uma cirurgia de alta complexidade, que deve ser realizada após todo preparo e discussão do caso.

Os pacientes que não se encaixam no perfil para ressecção cirúrgica devem ser avaliados por uma equipe de transplante hepático. Existe uma legislação brasileira específica para alocação do paciente na fila de transplante, bem como uma série de tratamentos que podem ser oferecidos durante o tempo de espera.

Esquema da via biliar e fígado para diferenciar os tipos de tumores
Esquema da via biliar e fígado para diferenciar os tipos de tumores

O colangiocarcinoma pode acometer qualquer parte da via biliar e o tratamento varia a depender da localização

Existe um outro tumor, o colangiocarcinoma, que surge das vias biliares. Ele pode apresentar-se dentro do fígado (intra-hepático), na própria via biliar (extra-hepático) ou na vesícula biliar. Os sintomas são muito semelhantes ao hepatocarcinoma, apresentando uma frequência maior de icterícia. Esse amarelidão, chamado de icterícia, ocorre devido à obstrução da via biliar, ocasionando o acúmulo de bile no organismo, conferindo essa tonalidade principalmente nos olhos.

O diagnóstico também é similar ao hepatocarcinoma, sendo necessária uma tomografia de abdome para avaliação detalhada da lesão, bem como marcadores tumorais, sendo o CA 19-9 o principal. Pode ser necessária também uma ressonância magnética específica para vias biliares, chamada de colangioressonância, que permite avaliar com precisão a anatomia da via biliar e a localização do tumor.

A biópsia muitas vezes é dispensada para decisão cirúrgica. Isso acontece porque, muitas vezes, são lesões difíceis de serem acessadas, bem como a chance de um exame falso-negativo. Se a imagem e os sintomas são bastante sugestivos, a realização da biópsia muitas vezes não altera a programação cirúrgica, ficando reservada para os casos de dúvida diagnóstica ou quando o cirurgião julgar que a lesão é irressecável.

O tratamento, sempre que possível, deve passar por uma cirurgia, que irá variar a depender da localização e extensão do tumor. Pode envolver hepatectomias (ressecção de uma parte do fígado), ressecção da via biliar ou de outros órgãos adjacentes.

Em regra, esses pacientes devem ser avaliados conjuntamente pelo oncologista clínico, que irá programar a quimioterapia, geralmente realizada de forma adjuvante, ou seja, após a cirurgia. É um tumor de tratamento complexo, que deve ser discutido em consultório para os detalhes individualizados de cada caso

Cirurgiões realizando cirurgia para um tumor abdominal
Cirurgiões realizando cirurgia para um tumor abdominal

O tratamento dos tumores de fígado pode envolver a cirurgia hepática para remover o segmento afetado.

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